quarta-feira, 8 de julho de 2015

OPINIÃO * Causas e efeitos no viver

Ricardo Gondim

Mesmo que alguém tenha certo controle sobre os seus atos, não terá quase nenhum sobre os desdobramentos. Nossas escolhas se expandem ou prolongam com autonomia. Cada ato alça vôo e se desprende das mãos de quem o iniciou. A obra de cada um ganha vida própria imediatamente após sua concretização. O tempo que tudo destrói, contraditoriamente, tem força de perenizar uma simples ação. Toda faca jogada para o alto desce. O pão lançado no rio contradiz a correnteza, e volta.

Se a seta desferida não retorna, a palavra falada faz uma curva e reaparece, arrastando as consequências para perto de quem a proferiu. A conspiração para derrubar alguém, mesmo beatificada com bons motivos, fermenta e, anos depois dos conspiradores morrerem, os netos provarão o fel. As vísceras rasgadas dos Judas não anulam a difusão da maldade que ele provocou. Está escrito: De Deus não se zomba, o que o homem plantar ele (ou seus descendentes) colherá. Quem planta raiva colhe ódio; quem planta ódio colhe violência; quem planta violência colhe morte. Por outro lado, quem planta bondade colhe amizade; quem planta amizade colhe cuidado; quem planta cuidado colhe alegria; quem planta alegria colhe felicidade.

Samuel recusou-se a ver o rosto de Saul mesmo depois dele mostrar-se arrependido. O profeta não queria se enternecer com a tragédia que a insensatez do rei trouxera. Edmond Dantès ressuscitou como o Conde de Monte Cristo – e a vida espetacular de Danglars se transformou em desgraça. A riqueza de Midas guardou maldição.

O provérbio avisa: Os que armam laços e sem causa abrem covas sofrerão repentina destruição. Eles se verão enredados nos laços que tramaram ocultamente. Mesmo com toda a misericórdia divina, os que roubam vida, os que soterram sonhos, os que jogam com a esperança de inocentes, deveriam temer o Salmo: Feliz aquele que lhe vingar o mal que você fez. Feliz aquele que pegar os seus filhos e os esmagar contra a rocha. Algumas vezes o troféu dos triunfantes traz o veneno que condenou a antiga serpente. O zelo de defender a verdade pode camuflar o ardil do rancor – nunca infértil – que terminará por desembocar em bestialidade. Mais cedo ou mais tarde o arrogante vê escrito no templo que edifica com as pedras da discórdia: Mene, Mene, Tequel, Parsim - pesado foste e achado em falta.

Os pacificadores serão chamados filhos de Deus. Os mansos herdarão a terra. O fruto da justiça é a paz. A solidariedade gera concórdia que se transubstancia em tranquilidade. Todo o que ama é nascido de Deus.

Há momentos em que sentimentos ilhados, mortos e amordaçados merecem subir à tona para que pessoas implacáveis, que resfolegam inclemência, acordem: nenhuma capa lhes protegerá da propagação, e da multiplicação, do que vocês dizem e fazem. A graça mais eficaz será incapaz de reverter o rio chamado tempo e anular a lei da semeadura e da colheita. Mesmo rodeados de horror, se pavimentamos nossa trilha com gestos de bondade, benignidade e gentileza, um dia, lá na frente, encheremos nossa aljava de vida eterna.

Soli Deo Gloria


Ricardo Gondim é escritor e teólogo,  presidente  da Convenção Betesda Brasil.  E-mail: E-mail: ricardogondin2@gmail.com

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